" Eu Faço Poemas "

EU FAÇO POEMAS.
EU FAÇO COISAS E NEM SEI O QUE FAÇO.
SEI QUE BEBO. TODOS OS DIAS, ATÉ DE NOITE.
SÓ NÃO BEBO QUANDO A PRATA VAZA, ESCAPA,
PRATA FALHA.
EU BEBO COISA FORTE, POESIA LICOR, POESIA AMOR,
POESIA FORTE.
EU GOSTO.
EU GOSTO DE TUDO QUE É FORTE MAS EU SOU FRACO.
EU SOU BELO COM A CABEÇA PRA BAIXO, NORMAL SOU UM
LOUCO, COMO TODOS QUANDO BEBEM UM POUCO.
E EU QUANDO BEBO, TAMBÉM SOU OUTRO, E GOSTO DE SER,
E ELE, O OUTRO, TAMBÉM GOSTA, NOS DAMOS BEM, MELHOR
QUE QUANDO CASEI, ME SEPAREI.
GOSTO DE ME SEPARAR, TUDO ACABA, TEM QUE ACABAR;
IMAGINA SE NÃO ACABASSE, QUE CHATO SERIA ESSA MESMA
COISA SEMPRE.
EU FAÇO POEMAS, CADA DIA UM DIFERENTE DO OUTRO, UNS
FALAM DE NADA, OUTROS DO NADA, SEMPRE DIRIGIDO À
LUGAR NENHUM, E QUE LUGAR BONITO, E CHATO.
TUDO É CHATO.
E SE NÃO FOSSE SERIA MELHOR?
PREFIRO A CHATICE.
É UMA PREFERÊNCIA, MAS E DAÍ; NÃO POSSO?
EU POSSO TUDO, QUE EU POSSO.
O RESTO ME ESQUEÇO, GUARDO NUMA GAVETA QUE TAMBÉM É
MUITO CHATA E QUE O FUNDO NÃO É FUNDO, É UM ALÇAPÃO.
TIPO AQUELES MISTÉRIOS QUE LEVAM MAIS LONGE QUE O LUGAR
NENHUM, DE CRITÉRIOS.
ONTEM VI UM MENDIGO DORMINDO NA PRAÇA, PENSEI EM DAR-LHE
MINHA CAMA, ELE NÃO QUIS, MENDIGO PROFISSIONAL.
PERFEITO.
ALIÁS, NINGUÉM É MAIS PERFEITO QUE UM MENDIGO, APRENDO MUITO
COM ELES, ELES NÃO APRENDEM NADA COMIGO.
E EU NÃO TENHO NADA PRA ENSINAR, NEM QUERO TER, NÃO SOU PROFESSOR
MUITO MENOS ATLETA PRA DAR ESSA FORÇA, SOU POETA.
EU FAÇO POEMAS.
EU FAÇO TUDO E TANTO QUE NADA INVEJA, NADA INVEJA ZERO VAZIO DE
INFINITO BRANCO PROFUNDO E QUE DISTÂNCIA QUE VIAJA, VIAJA;
IR LONGE É SUA RETA, COM DROGAS, REMÉDIOS, E UMA VADIA SENHORA
DE TODOS E MINHA.